18 / 01 / 2019 - 13h20
Pavor se espalha via WhatsApp e amplifica crise de segurança no Ceará

Estado enfrenta união tática de facções criminosas contra política carcerária. Vídeos se espalham e aumentam sensação de insegurança. Governo cria recompensa por informação

Há uma guerra virtual dentro da guerra travada entre facções criminosas e o Governo estadual nas ruas do Ceará. Os criminosos se multiplicam em mensagens no WhatsApp e Facebook e amplificam a onda de pavor na qual Fortaleza e outras 50 cidades estão mergulhadas há duas semanas, quando atentados começaram a acontecer. Em contrapartida, o Estado tenta lançar mão de uma artilharia digital pesada para tentar rebater as ameaças. Passou inclusive a oferecer recompensa de até 30.000 reais por informações após uma denúncia feita por aplicativo levar a Secretaria Estadual da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) a um depósito clandestino com mais de cinco toneladas de explosivos.

Em vídeos, áudios e textos, os bandidos mostram como agem e mandam recados audaciosos à população e à alta cúpula da Polícia Militar cearense. “Agora a bagunça vai começar, é de com força”, debocha o membro de uma das facções enquanto filma um ônibus em chamas. “Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nos coisa lá dos policial, tá ligado?”, desafia outro, em reprodução das mensagens que mantém as incorreções ortográficas originais.

A ousadia é tamanha que até um canal no YouTube os criminosos criaram. O Facções News tem vídeo com quase 145 mil visualizações. “Logo que os ataques começaram [dia 2 de janeiro], a gente recebia mensagem direto. Eu lembro que uma das primeiras que chegaram para mim era dizendo que um avião tinha sido derrubado na BR. E muita gente acreditou porque o estrondo foi forte. O chão tremeu e tudo. Depois foi que a gente soube que tinham explodido uma bomba pra derrubar um viaduto”, relata a dona de casa Célia Souza, moradora do Metrópole, bairro de Caucaia, segunda maior cidade do Ceará, que fica na Região Metropolitana de Fortaleza.

Em duas semanas, o Ceará soma 220 atentados em 51 cidades. A onda começou logo após o novo secretário estadual de Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, afirmar que não reconhecia a existência de facções criminosas no Estado, anunciando a transferência de líderes. Mensagens atribuídas aos grupos anunciaram, então, espécie de trégua tática para lutar contra o inimigo comum: Albuquerque, de quem exigem a renúncia.

EL PAÍS

 



23 de Abril de 2024 21h:48
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