O psicólogo Carlos Henrique Aragão em entrevista ao Especial da Ora destaca que o "Setembro Amarelo" ajudou a desmistificar, pelo menos um pouco, o tabu sobre falar de suicídio. Esse foi o tema do primeiro programa especial sobre saúde e comportamento exibido, neste sábado (25), na TV Cidade Verde, que também discutiu a necessidade das pessoas terem mais atenção com o outro, principalmente agora com o isolamento social devido a pandemia do novo coronavírus.
Carlos Henrique ressalta que falar sobre o suicídio é a melhor solução para prevenir. "A questão específica do suicídio é que nós não podemos ou não devemos falar de qualquer forma. Há critérios estabelecidos por instituições, como a Organização Mundial de Saúde e Associação Brasileira de Psiquiatria, para que tenhamos alguns cuidados ao falar na mídia, palestras, ao grande público".
Esse cuidado ao falar sobre suicídio é necessário para evitar o efeito de contágio principalmente em jovens vulneráveis. "Nós sabemos disse baseado em evidências: notícias ambíguas, sensacionalistas, romantizadas, glamourizadas, que mostra os lugares onde as pessoas tiram as suas vidas, os métodos, tudo isso é deletério e, portanto, precisamos ter cuidado".
"Nós temos que falar sobre o suicídio, tanto que estamos falando aqui, mas de uma forma tranquila, responsável, para que as informações baseadas em evidências e de qualidade cheguem ao grande público".
As pessoas podem ajudar quem está em sofrimento perguntando "onde está doendo" e afirmar que estão dispostas a ajudar porque se importam com o seu bem-estar. "Toda pessoa que está em sofrendo gostaria de saber que alguém se importa com ela". A partir disso, poderá saber se esse apoio será suficiente ou vai precisar de uma rede de suporte com a família, profissionais de saúde habilitados para isso, além de grupos de religião, por exemplo.
Carlos Henrique alerta que os "dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) a gente vê, que não é de hoje, que o suicídio é a segunda principal causa de morte na população entre 15 e 29 anos (no mundo). No Brasil, talvez a terceira ou quarta (cauda de morte) porque aqui nós temos muitos homicídios".
Comportamento suicida
Ao falar sobre o fenômeno e o comportamento suicida, o psicólogo Carlos Henrique Aragão destaca dois pontos: a primeira é a complexidade e a segunda é porque o suicídio é um fenômeno multideterminado.
"Significa dizer que ninguém tira a sua vida por um único fator. O suicídio é fruto de uma interação complexa de diversos fatores: psiquiátricos, psicológicos, emocionais, ambientais, culturais, sociais, econômico-financeiro e religiosos. Não quer dizer que um caso de suicídio precisa conter todos esses fatores, mas provavelmente não será um só".
Outro dado importante e que requer muito cuidado, segundo o especialista, são as "pistas" de uma possível ação suicida.
"Nós sabemos que uma parte das pessoas que tiram as suas vidas - de alguma forma - sinalizam, mas nem sempre esses sinais são claros, nem sempre são verbais, muitas vezes são subliminares e sutis. Podemos citar mudança brusca de comportamento, tristeza profunda, isolamento social, perder o prazer em coisas que tinham prazer anteriormente, crises de choro sem motivo aparente, falar muito em morte, agressividade e irritabilidade excessiva, frases melancólicas em redes sociais. É um quadro de desamparo, de desesperança e, pior ainda, de desespero humano".
"Não quer dizer que um desses sinais ou mais querem dizer que alguém queira tirar a própria vida, mas possivelmente podem sinalizar que alguém não está bem e está em sofrimento, muitas vezes em sofrimento grave".
A regra deve ser: "ao menor sinal de sofrimento - o seu próprio ou do outro - estenda a mão, escute e ofereça ajuda. Ou você pede ajuda ou oferece ajuda, porque pedir ajuda é um dos maiores fatores de proteção que nós temos".
Fonte: Portal cidadeverde.com