Uma família homoafetiva em Teresina denunciou que foi vítima de injúria racial e homofobia durante a Parada da Diversidade na noite de terça-feira (06). Segundo o advogado Juliano Carvalho, ele e o esposo estavam com o filho de 11 anos quando foram abordados e, segundo eles, expulsos do evento por estarem com a criança. Eles contaram que vão ingressar com ação cível e representação criminal.
A abordagem teria partido de uma conselheira tutelar e da gerência de Direitos Humanos da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi).
Juliano Carvalho disse que não é a primeira vez que leva o filho à Parada da Diversidade e que consultou a organização do evento para confirmar a classificação livre.
"Estávamos em uma área próxima ao palco, pois nosso filho tem deficiência mental e cognitiva. Primeiramente, uma conselheira se aproximou e disse pra gente amigavelmente se retirar com a criança que não poderia estar ali. Caso contrário, ia chamar a polícia. Depois veio o gerente de Direitos Humanos, perguntou de quem era a criança e fez cara de espanto por sermos brancos e o nosso filho preto. Ele disse que ia dar 1 hora para a gente sair antes de tomar providências. Fomos literalmente expulsos de um evento que é para o público gay. Mesmo provando a paternidade, fomos colocados numa situação de abusadores da criança, e não de pais", disse Juliano Carvalho.
CONSTRANGIMENTO
Juliano Carvalho caracteriza a situação como um ato de crueldade. Ele diz que o filho pediu para ir ao show para ouvir a música "Oyá por Nós", mas saiu do evento antes mesmo de Daniela Mercury cantá-la.
"A gente foi embora indignado. O que justificaria essa atitude? eu poderia ter ficado e questionado, mas meu filho, que estava dançando, começou a chorar com toda aquela situação. Eles tinham obrigação de saber o que podia ou não no evento. Foi um despreparo terrível da equipe da Semcaspi por não entenderem os tipos de família. A função deles é nos proteger e preservar, e não nos humilhar e nos tornar vítimas de preconceito", desabafa o pai da criança.
Ele disse que não registrou boletim de ocorrência, mas vai entrar com uma representação civil e criminal contra os agentes públicos e a Semcaspi.
"Não vou me calar, sou advogado, sei dos nossos direitos e do direito do nosso filho. Além dele tinham várias crianças que, segundo eles, também teriam sido expulsos, o que não é verdade. A situação foi específica conosco. Não vejo no ordenamento jurídico nada que me proíba de estar num evento de classificação livre", diz Juliano Carvalho.
Para ele, a exposição do caso serve como ação educativa para que as pessoas respeitem todos os tipos de família.
"Nada vai apagar da mente dele, nem da nossa. Isso vai gerar um medo da gente em estar em outros locais. Mas resolvemos resistir e procurar nossos direitos. Meu filho queria ouvir a música que tanto gosta, mas fomos impedidos. Minha reação é educativa. As pessoas precisam ser educadas a respeitar famílias como a nossa. Não temos que nos esconder. Não vou me calar, não vou me esquecer. A gente não dormiu ontem. Foi cruel", conclui emocionado, o pai do garoto.
EVENTO TINHA CLASSIFICAÇÃO LIVRE
Na autorização judicial concedida para a Parada da Diversidade pela juíza Maria Luíza de Moura Mello e Freitas, da 1ª Vara da Infância e Juventude, consta que a classificação do evento é livre.
Sobre a idade, trecho da sentença diz que está proibida "a entrada e permanência de crianças e adolescentes, (pessoas com menos de 18 anos, desacompanhadas dos pais ou responsáveis (ascendentes e colaterais até o 3º grau (tio sobrinho), após as 23:00 horas, em qualquer dia da semana, em estabelecimentos comerciais denominados bares e outros que comercializem bebidas alcoólicas e outras drogas".
GERENTE DE DIREITOS HUMANOS NEGA ACUSAÇÕES
O gerente de Direitos Humanos da Semcaspi, André Santos, negou as acusações e disse que apenas orientou aos pais sobre o horário.
“Já era mais de meia noite e apenas orientamos quanto ao horário. O companheiro dele foi quem disse que ia se retirar. Estamos só orientando devido ao horário, quem fez a orientação foi a própria conselheira, que está no papel dela”, destacou.
André ressaltou que não procede a informação de que foi dado uma hora para que a família deixasse o local do show.
“Isso não procede, as pessoas têm o direito de ir e vir. Tinha uma criança e teve uma orientação. Ele é o pai, ele responde pelo filho. Se acontecer algo ele é responsabilizado. As pessoas se sentem machucadas numa situação de dar apoio a uma criança. Estávamos orientando as pessoas”, afirmou.
O gerente voltou a ressaltar que o órgão não pode proibir ninguém de circular e muito menos exigir a retirada de pessoas dos eventos.
“É uma coisa que não tem nada a ver. Se eles se sentirem prejudicados podem procurar a justiça. A gente fez o nosso papel. Ele como pai pode levar a criança, a gente orienta pelo fato do horário, o risco em casos de tumultos. Não é que a gente mande proibir ou retirar, nós orientamos. Não posso mandar ninguém sair. Não temos poder de polícia”, finalizou.
FONTE: CidadeVerde.Com