O Em Foco preserva a identidade das pessoas ouvidas pela reportagem (Foto: Ilustrativa)
A reportagem do Em Foco teve acesso exclusivo a duas pessoas que acompanharam os depoimentos dos quatro adolescentes envolvidos nos estupros de Castelo do Piauí. Elas estavam presentes quando os menores foram ouvidos no Distrito Policial de Campo Maior. E agora contam o que viram e ouviram na sala de investigação na tarde daquela quinta-feira, 28 de maio.
Comentam a denuncia de que os menores foram espancados para assumirem o crime. Revelam o que os envolvidos disseram. Os momentos de tensão nos depoimentos, as contradições, os relatos chocantes. E falam se os adolescentes citaram uma oferta de R$ 2 mil que Gleison teria recebido.
As duas pessoas ouvidas pela nossa reportagem não terão seus nomes revelados. A primeira chamaremos de presença A (P-A) e a segunda de presença B (P-B)
Os depoimentos
Logo após serem presos em Castelo do Piauí, os quatro adolescentes foram enviados ao Distrito Policial de Campo Maior na tarde do dia 28 de maio para serem ouvidos. Na cidade de Castelo o clima era tenso, populares revoltados tomaram a frente da delegacia local e os menores tiveram de ser retirados do município.
Em Campo Maior, os adolescentes ficaram em celas diferentes. Por volta das 14h se iniciaram os depoimentos. Aquela era a primeira vez que os menores falariam sobre o caso. O primeiro a ser ouvido foi Gleison Vieira da Silva. A P-A ouvida pelo Em Foco estava na sala de interrogatório.
“Ele disse que eles, os quatro menores, estavam no morro do Garrote na companhia do Adão; todos consumindo entorpecentes. As garotas chegaram nas motos e o Adão foi ao encontro delas. O Gleison disse que os quatro ainda tentaram correr, mas o maior de idade lhes rendeu com uma arma e disse que se fugissem seriam mortos”, descreve P-A.
Foto: Reprosução
A P-B ouvida pelo Em Foco acompanhou os depoimentos dos outros três menores. “Eles começaram negando que tivessem participado dos estupros. Mas depois, no decorrer da conversa, eles acabaram confirmando que praticaram o crime. Eles foram ouvidos separados, mas os depoimentos são muito parecidos”, disse.
Questionada sobre a descrição de como tudo aconteceu, P-B declarou: “Eles disseram igualmente que estavam no morro usando drogas, junto com o Adão; que a droga acabou e um deles foi comprar mais. Quando as meninas chegaram o Adão teria forçado eles a praticarem o delito. Mas que foi o Adão quem empurrou elas e jogou pedras na cabeça de uma delas”.
P-B afirmou que nenhum dos menores citou se Gleison teria recebido RS 2 mil. Um dos três menores foi ouvido três vezes, porque estava entrando em contradição. “Eu, particularmente, percebi que eles estavam falando a verdade. Eles disseram praticamente as mesmas coisas. Depoimentos bem parecidos".
Espancamentos em Campo Maior
No início dessa semana documentos revelaram que adolescentes internados no Centro Educacional Masculino (CEM) teriam ouvido os quatro acusados afirmarem que tinham sido espancados em Campo Maior para assumirem os crimes. Na chegada ao Centro, os quatro voltaram a ser espancados e que isso se repetiu com os três acusados de assassinarem o jovem Gleison.
O Em Foco perguntou a P-A se ouve espancamentos no DP em Campo Maior. “Eu não vi. Quando eu cheguei à sala o Gleison já estava presente. Na minha presença não ouve espancamento nenhum”, disse. Perguntamos se ela percebeu ter havido alguma pressão sobre o jovem, ele reafirmou: “Não. Ele parecia falar o que presenciou”.
Foto Reprodução
Nos depoimentos dos outros três adolescentes P-B disse não ter presenciado nada fora do normal. “Eles estavam nas celas. Se ouve alguma tortura lá eu não sei, mas na sala onde eu estava não aconteceu. Eles eram pressionados apenas nas perguntas dos agentes, como é de costumes nesse tipo de situação”.
Uma última declaração da segunda pessoa ouvida pelo portal impressiona. “Eu também acompanhei os exames de corpo e delito. Dos quatro, dois relataram aos peritos que tinham sido espancados ainda em Castelo, não em Campo Maior. Inclusive um deles apresentava um olho roxo que acredito ser resultado disso”, finalizou.
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