Francisco das Chagas Araújo, pai dos jovens Franciso das Chagas Júnior e Bruno Queiroz, mortos em um grave acidente de trânsito no último domingo (26), falou hoje (30) à imprensa piauiense sobre a perda dos dois únicos filhos, pediu justiça e declarou - sobre Moaci de Moura Júnior, que dirigia o veículo suspeito de causar o acidente: "Ele é um assassino, ele acabou com a minha vida". Além dos irmãos, idealizadores do coletivo cultural Salve Rainha, o jornalista Jader Damasceno também ficou ferido na colisão.
"Eu faço esse apelo à justiça, que pelo menos faça cumprir essas leis, que bote esse elemento na cadeia, para que não aconteça com outros pais de família o que aconteceu comigo. Ele acabou com a minha vida. Minha vida acabou, não tem mais sentido. Meus dois filhos que eram minha vida. Os únicos que eu tinha".
Bastante emocionado, Francisco falou por pouco mais de cinco minutos e teve forças para pedir por uma legislação mais severa quanto aos crimes de trânsito no Brasil.
"Acho que legislação brasileira tem que mudar, porque é um absurdo. Eu acho que esses legisladores têm que mudar muita coisa nesse país, inclusive essas leis de trânsito. Acho que eles não veem isso. Eu não sei o que estão fazendo no Congresso, é uma disputa por leis, mas não resolvem isso", disse.
Ele falou ainda sobre a atitude de Moaci, que teve embriaguez aguda apontada por laudo pericial no momento em que dirigia. Há ainda a suspeita de que ele tenha invadido um sinal vermelho e de que estava acima da velocidade máxima permitida na via, de 60 km/h. Após pagamento de fiança no valor de R$ 7.040, o rapaz responde pelo crime em liberdade.
"Se fosse em outro lugar, um caso desses aqui, ele ia para a cadeia, não tinha fiança. Eu acho um absurdo. Ele é um assassino, matou meus dois filhos. Um elemento que anda dirigindo, se embriaga e anda a mais de 160 km/h dentro da cidade, ele está com intenção de matar. Se o 'cara' bebeu, não dirige. Existe a lei, mas na hora de cumprir, não cumpre. Se tem dinheiro, é solto", lamentou.
Sobre um possível encontro com Moaci, ele declarou: "É algo muito difícil de pensar, eu gostaria que isso nem acontecesse. Porque eu poderia em uma situação posterior até dar alguns conselhos, mas eu não sei se eu teria coragem nem condições de me deparar com ele agora, porque considero ele um assassino. Ele assassinou meus filhos", afirmou.
O pai lembrou dos filhos e destacou que os dois eram rapazes extremamente responsáveis e preocupados com ele.
"Eram dois meninos reponsáveis, alegres, esforçados pelos seus trabalhos, que estudavam e faziam tudo com responsabilidade. O Bruno, não é porque era meu filho, mas era um menino que a responsabilidade chegou e parou. Era cuidadoso, não entrava no sinal vermelho, nem na contramao, não dirigia em alta velocidade. Foi um pedaço de mim ou minha vida toda que foi embora. O Bruno não me deixava. Ele tomava a chave do carro e todo lugar era ele me levando, minhas contas tudo era ele que pagava. Todas as minhas coisas era ele que resolvia", recordou.
Doação de órgãos
Na noite de ontem (29), após confirmação da morte cerebral de Júnior, internado e em coma no HUT desde domingo, o pai decidiu doar os órgãos do filho.
"De certa forma me conforma um pouco, porque sei que foi feita alguma coisa por alguém. Acho que assim estamos dando vida a outras pessoas. Quantas pessoas estão na fila de transplante? Eu achei por bem e tenho certeza que se ele estivesse vivo, faria isso. Ele comentava sempre com minhha sobrinha que tinha esse desejo", declarou
O médico Gilberto Albuquerque, diretor do HUT, falou que no Piauí, somente o transplante de coração não é realizado. Até o final da manhã, o jovem passará por todos os exames para a doação e somente o olho direito talvez não possa ser transplantado.
"Aqui poderemos fazer a doação do fígado, dos rins e das córneas. Contudo, o olho direito dele sofreu uma lesão e ainda vamos avaliar se vai ser possível fazer essa doação. Ele passará por exames nas próximas duas ou três horas e então será feita a retirada dos órgãos", informou.
Fonte: cidadeverde.com