A Delegacia de Repressão a Crimes de Informática abriu um inquérito para tentar identificar os responsáveis pela produção e disseminação de notícias falsas sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL). Ela foi assassinada a tiros no último dia14 com o motorista Anderson Gomes.
O titular da unidade, delegado Pablo Sartori, recebeu uma série de denúncias de advogadas que participam de uma força-tarefa contra a propagação de calúnias envolvendo o nome da vítima. Segundo ele, o material começa a ser analisado neste sábado pela equipe especializada em rastrear a origem de publicações na internet.
De acordo com especialistas, autores e replicadores de fake news podem ser enquadrados em crimes como injúria e difamação. As advogadas que foram à delegacia reuniram cerca de 17 mil postagens feitas em redes sociais com conteúdo ofensivo. Nesta quinta-feira, a juíza Márcia Correia Holanda, da 47ª Vara Cível do Rio, atendeu a um pedido de liminar apresentado pela família de Marielle e determinou que o YouTube remova, em um prazo de 72 horas, 16 vídeos, que, segundo a magistrada, “extrapolaram o que a Constituição fixou como limite ao direito do livremente se manifestar”.
A equipe que cuida do caso, do escritório EJS Advogadas, ainda pretende apresentar ações contra outras redes sociais, como Facebook, Twitter e Instagram, pedindo a retirada de publicações de ódio contra Marielle. Elas dizem que também planejam processar divulgadores de notícias falsas que geram um grande volume de compartilhamentos.
Publicação impulsionou onda nas redes
Os dados colhidos pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo apontam que uma publicação de um site de opinião política impulsionou uma onda de boatos envolvendo Marielle.
Um link para um texto da página Ceticismo Político foi divulgado no Facebook, e, pouco depois, o Movimento Brasil Livre (MBL) o replicou,ampliando ainda mais a repercussão de fake news. Até a noite desta quinta-feira, o conteúdo havia sido compartilhado mais de 360 mil vezes, ocupando o primeiro lugar entre as postagens que citavam uma falsa ligação entre Marielle e o crime organizado.
O vereador Tarcísio Motta (PSOL) criticou o que chamou de “vale-tudo das redes sociais”, e disse que o partido cobrará do MBL uma explicação sobre o compartilhamento do texto publicado no site Ceticismo Político. Na postagem original, é abordada uma notícia de Mônica Bergamo, colunista da “Folha de S. Paulo”, sobre um comentário que a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio, postou no Facebook. Entre outras acusações, ela acusou Marielle de “engajamento com bandidos”.
Em sua postagem, o Ceticismo Político subverteu o conteúdo original e fez um novo título: “Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é cadáver comum”. De acordo com o pesquisador Fábio Malini, coordenador do Labic, a publicação do site foi a que teve maior influência no debate sobre o tema nas redes sociais.
Diretor da Bites, empresa de consultoria tecnológica, Manoel Fernandes disse ser improvável que o Ceticismo Político tenha feito uso de robôs para criar a repercussão alcançada. O especialista observou que a publicação foi distribuída por pessoas e grupos com alta influência nas redes, como o próprio MBL e Kim Kataguiri, um de seus líderes.
Segundo uma análise da Bites, o Ceticismo Político tem uma média mensal de 460 mil visitantes únicos por mês, sendo que 93% de seu tráfego de leitores tem origem nas redes sociais. Oitenta por cento dos acessos são feitos pelo Facebook. O domínio do site, registrado por uma empresa da Dinamarca, pertence a Luciano Henrique Ayan, nome sem referências em bancos de dados públicos.
Nesta sexta-feira, cerca de 50 pessoas fizeram uma manifestação na Praça Ruy Barbosa, no Centro de Nova Iguaçu, para cobrar a elucidação do assassinato e a punição dos responsáveis pelas falsas informações sobre a vereadora
Fonte: O Globo