16 / 03 / 2019 - 09h26
Camila Marques: advogada cega mostra o Direito além do que se vê

O ser humano é capaz de tudo, inclusive na hora de superar obstáculos e driblar as limitações. Com foco, persistência e dedicação, tudo é possível. Um exemplo perfeito disso é a advogada Camila Hannah Marques, de 24 anos. Completamente cega desde que nasceu, a moça passou no exame da OAB antes mesmo de colar grau nesta sexta-feira (15).

Nascida em Teresina, a moça de presença doce e agradável mostra que tem todas as ferramentas para conquistar o mundo. Ela mostra que o Direito está muito além do que se vê. Está também no que se estuda, aprende, interpreta e coloca na prática. Com experiência em Direito Civil e administração pública, pois estagiou no Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI), Camila agora trilha uma rotina de estudos para concursos.Como estudante, a moça sempre mostrou competência. Para isso, teve o apoio da Associação dos Cegos do Piauí, que acompanhou seu farto desenvolvimento da educação infantil ao ensino superior, onde logrou o diploma de bacharel em Direito através de uma importante faculdade particular da capital.

Decidida em vencer as adversidades que a vida lhe colocou, Camila Hannah Marques é um exemplo para estudantes com deficiência visual e até mesmo aqueles que não possuem nenhuma deficiência e deixam-se procrastinar. É preciso levar os estudos a sério, independente da condição física.


Para NOSSA GENTE, Camila é mais que um exemplo. É um modelo, uma inspiração e um grito de representatividade para todas as pessoas com deficiência.

Jornal Meio Norte: Você sempre foi cega?

Camila Hannah Marques: Sim, tenho deficiência visual total. Nasci prematura de seis meses. Fui acometida pela retinopatia da prematuridade.

JMN: Quais foram as principais dificuldades para o estudo de alguém com baixa visão ou cego?

CHM: Uma das grandes dificuldades é o custo dos materiais de estudo. É tudo muito caro para quem é cego. Os papéis são caros, são específicos para isso. Além das dificuldades que os professores encontram para preparar materiais de estudo. Temos falta de acessibilidade, como a acessibilidade atitudinal. A acessibilidade atitudinal é mais ampla, é se colocar no lugar do outro e perceber as necessidades do outro. Assim é possível quebrar ou anular as barreiras existentes. Outra questão que enfrentamos é a falta de livros. Os livros em formato digital aumentaram, mas não temos esses livros na mesma rapidez que os editados normalmente.

JMN: Você sempre foi uma boa aluna?

CHM: Dizem que sim. Minhas notas sempre foram boas. Na época da escola eu fazia em braile, mas conforme a evolução escolar eu comecei a adotar computadores e o apoio de ledores. As provas foram ficando extensas então para passar para o braile era complicado, pois gasta muito tempo e papel. Na Associação dos Cegos do Piauí nós vivemos muitas dificuldades financeiras, além de material. Apesar de termos o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal de Teresina, acabamos vivendo muito de doações da sociedade civil organizada. Temos atendimento não só na escola, mas também em restaurantes e outros espaços.

Meio norte

 



26 de Abril de 2024 12h:03
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